"Pelo conforto espiritual das Escrituras tenhamos firme esperança" (Rm 15,4)

Lectio Divina: um continuum

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Há muitos paralelos e conclusões que podem ser feitos entre a evolução de um relacionamento de amor e a evolução do relacionamento de amor com Deus que se desenvolve na oração. Primeiro e mais evidente: leva algum tempo! Em ambos os relacionamentos, somos inclinados a buscar a realização de metas – no primeiro caso, casar, construir um lar, ter filhos –, “fins” que acabam se revelando os meios que compõem a contínua viagem conjunta, o compartilhamento da vida, em amor e fidelidade. Também na oração, o “fim” não é um grau imaginado de contemplação, ou uma experiência mística que nos dirá que chegamos ao ponto pretendido, mas “alegrias e tristezas, nascimentos e mortes, sucessos e fracassos, desentendimentos e reconciliações – e, ao longo de tudo isso, um crescimento constante em unidade e amor maduro, numa vida compartilhada do início ao fim”.

A Lectio é como isso. Ela não é um “método” de oração. Aproxima-se mais dessa experiência humana do desenvolvimento de uma relação interpessoal profundamente amorosa e segue a mesma dinâmica, ilustrando como a “graça se constrói sobre a natureza”. Pois crescemos no amor de Deus como crescemos em qualquer relacionamento íntimo de amor – por meio de um continuum de conhecimento, confiança, desejo, entrega de nossas defesas e medos e, por fim, de nosso próprio eu, ao Amado. Esse continuum corresponde aos níveis cada vez mais profundos de oração obtidos no processo da Lectio Divina com suas quatro fases progressivas, fluindo da reflexão sobre a palavra da Escritura para a oração espontânea e, então, para uma presença silenciosa diante de Deus em amor.

Ao examinar essas quatro fases ou movimentos – leitura (lectio), meditação (meditatio), oração (oratio) e contemplação (contemplatio) –, logo veremos como o elemento de “unidade” caracteriza a Lectio, pois ela envolve a pessoa como um todo: mente, coração e espírito – o intelecto e a imaginação, a vontade e as afeições.

A forma como essa disciplina assume é condicionada ao tempo histórico em que se vive, assim como ao contexto da vida do indivíduo, mas o princípio subjacente se mantém: cada um de nós é chamado pelo amor a amar; chamado para fora de seu estreito individualismo e de seu mundo particular para que seja “convertido” pela atração de Deus e viva para ele, como Jesus fez. Seguir Jesus é estar apaixonado, com tudo o que esse dom implica. Quando esse amor é plenamente aceito, nossa vida começa a mudar a partir do centro.

*Resumo do livro: Thelma HALL. Lectio Divina: o que é, como se faz. São Paulo: Loyola, 2001. 

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